junho 21, 2005

Sociedade.NET


O ciberespaço parece realmente estar consolidado como meio de comunicação interpessoal. Hoje em dia não se pede mais um telefone com a mesma freqüência que com que se pergunta se alguém tem messenger, e-mail ou está no Orkut. Imaginem só que ontem à noite, num arraial popular, depois de gentilmente aceitar dançar um forrózinho da Elba Ramalho com um senhor ele me faz a seguinte pergunta: “Pode me dar seu e-mail?”

Ele tinha a dicção ruim e a voz falha, características que nada colaboravam num ambiente barulhento como aquele. Era notoriamente muito simples. Primeiro até pensei que tinha entendido errado e que ele estava me pedindo dinheiro. “Não, não tenho dinheiro”, respondi. Mas ele insistiu. “Não, você tem e-mail? Pode me dar seu e-mail?” Fiquei boba. Pasmei. Aquilo parecia surreal demais para mim. Onde estava a tão falada exclusão digital? Neguei, claro. Porque eu iria querer manter contato com aquele senhor meio esquisito para quem apenas dei o prazer de uma dança?

Chega a ser preocupante como nossa identidade virtual assumiu proporções tão grandes. Sem um endereço eletrônico hoje não se arruma mais emprego (aliás, nem com isso!), com tanta agência on-line e anúncios de jornais que pedem para encaminhar o currículo para e-mails de RH.

Lembrei-me então de outro e-mail. Um que recebi de um amigo, sobre Orkut e o emprego hoje. Eram tirinhas bem-humoradas que alertavam para vulnerabilidade a que estão expostos os usuários do site, quando um candidato em entrevista é surpreendido com a consulta de seu perfil no Orkut. A adesão a comunidades do tipo “Faço sexo no trabalho” e “Odeio me chefe” destroem com as chances dele ganhar a vaga.


Essa impessoalidade definitivamente não me atrai. Será que é seguro? Saudável? O tempo dirá. Só sei que apesar de tantos recursos ainda me encanto com uma boa conversa cara-a-cara, com as fotos analógicas e em reler as poucas e tão sinceras cartas que já recebi e guardo com muito carinho.

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