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Por fim, a confortável ignorância de não ter jamais a certeza que não era a única em sua vida acabara no exato momento em que o viu cruzar aquela porta, de mãos dadas com outra mulher.
Sentiu um frio na barriga e em seguida respirou fundo, cogitando qual era a chance daquela companhia feminina não passar de uma amiga, uma prima, quem sabe uma irmã desconhecida. Mas irmãos não se beijam assim.
Era isso mesmo. Ele estava ali, e estava com outra. Tinha feito o que ela mesma não teve coragem com o receio de machucar seus sentimentos, esfregando-lhe na cara a presença de outro homem.
Arrependeu-se na hora de ter proibido seu mais novo amante de acompanhá-la. Inventara uma desculpa qualquer. Queria evitar causar o desconforto que se via refém naquele momento.
Buscou acolhida num copo de cerveja. Beberia e beberia mais, a letargia alcoólica lhe faria companhia naquela noite.
Aquela cena dava solidez ao sentido de certa palavra que ela mesma havia jogado no ar: “acabou”. Olhou para os dois mais uma vez, agora sem qualquer rancor, e sentiu-se aliviada.
Havia sobrevivido à verdade sem grandes arranhões e podia seguir adiante, sabendo que algumas certezas, afinal, não lhe fariam tanto mal assim.