junho 18, 2005

O Calote


Outro dia fui pega de surpresa ao ler um “scrap” de uma amiga que me falava de uma noite em que saímos de um bar sem pagar a conta. Era o aniversário da amiga de uma amiga dela, num lugar onde fomos muito mal atendidas e não havia controle algum de quem entrava ou saía do bar. Dizia ela no recado algo mais ou menos assim: “Paula preciso falar contigo urgente. Tô tentando te encontrar e não consigo. A amiga da fulana teve que pagar e estão nos procurando pelo calote.” Aquilo soou tão forte e vergonhoso que deletei a mensagem sem pestanejar. Eu caloteira? Nunca tinha pensado naquele episódio por esse ângulo.

Para mim, aquilo não passava de um troco pelo mal atendimento e uma lição para aprenderem a ser mais cuidadosos com a circulação da casa. Simbólico, diga-se de passagem, já que eu tinha gastado pouco mais que um couvert de três reais. Jamais imaginei que saindo com uma comanda individual na bolsa poderia prejudicar outra pessoa. De esperta passei a me sentir a última das criaturas. Ainda mais que honestidade sempre fez parte do meu currículo e aquela situação arranhava minha imagem nesse quesito.

Deve ser por causa dessa cultura de malandro, do bom e velho “jeitinho brasileiro” que estamos tão habituados a lidar. Afinal, quem não gosta de levar vantagem de vez em quando? Em dias que até países tentam dar o calote, coisinhas como ficar quieto quando se recebe um troco a mais errado ou sair sem pagar a conta passam desapercebidos e inquestionáveis no dia-a-dia. Honestidade é hoje um artigo tão raro que exemplos isolados merecem até reconhecimento do presidente da república, como aquele caso do faxineiro do aeroporto que devolveu o dinheiro que ele achou. É como o homem que morde o cachorro, foge a lógica natural.

O peso na consciência e o embaraço voltaram hoje a bater na minha porta. Bem, na verdade, ao tocar o telefone, quando a mesma menina retomou o assunto, me passando o número da conta bancária da amiga da lesada.


Vejam só que dor de cabeça fui arrumar! Antes fosse melhor enfrentar a fila e ter pago a conta lá mesmo, no dia, tudo certinho, como manda o “manual dos bons costumes”. Quem acabou aprendendo uma lição fui eu. Deveria estar fora do meu estado normal para esquecer que malandragem por malandragem, não tem jeito, alguém sempre paga a conta no final. Eu, você, a menina...

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