março 24, 2006

Office-girl

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Descobri que estava quebrado só quando abri. Puta merda! – pensei – peguei o guarda-chuva errado. Justo quando teria que descer e em seguida dar uma bela pernada de salto alto até alcançar a Av. Paulista. Estacionamentos não faltam pela redondeza, é verdade, porém são caros e o metro quadrado por minuto costuma sair salgado por aquelas bandas.

O relógio marcava 7h35. Já previa a necessidade de fazer hora pelo menos até os bancos abrirem. Deixei o carro bem longe, onde assegurasse que ao invés de R$ 8 a hora não pagaria mais que R$ 2 pelo mesmo período. Longe, inconveniente, mas econômico. Pra variar, mais uma vez meu lado fresca se curvava ao pão-dura, que só perde para o outro quando cai naquele velho truque da liquidação. Ô palavrinha perigosa!

Segui munida apenas com aquele pedaço de tecido com meia dúzia de varetas ainda inteiras, brigando numa luta acirrada contra o vento e a chuva que pareciam vir cada vez mais fortes, num delírio sarcástico, como se obtivessem prazer em serem responsáveis pelo meu desalinho. Quase 8 da manhã. Em meio ao atrapalhado manuseio da coisa estropiada tentava manter certa elegância para não fazer feio naquela passarela empoçada onde desfilavam apressados ternos e gravatas pra lá e pra cá.

Tinha assinalado na agenda tudo que deveria fazer naquela manhã. Primeiro sacaria dinheiro para pagar uma conta de luz vencida com título de outro banco. Depois buscaria os livros de espanhol encomendados na véspera. Passaria então em uma lotérica para recarregar meu celular e também não poderia esquecer de passar numa farmácia no caminho.

Cheguei enfim no primeiro banco. Um dos caixas eletrônicos estava sob manutenção. O do lado, quem sabe, estaria funcionando. Esperei para ver se o rapaz que estava a minha frente sairia daquele caixa com sucesso. Olho para o lado enquanto aguardo, até porque não é prudente olhar para frente nesses lugares. Sempre tem um desconfiado que pensa que a gente tá lá tentando bisbilhotar a senha do infeliz.

E estava lá, colado naquela porta de vidro trancada o aviso do banco que dizia: “Expediente das 10h às 16h”. Droga! Podia jurar que abriam às 9h! Era inacreditável que naquela babilônia onde todos pareciam estar sempre com pressa fosse possível contar com a boa vontade dos bancários só a partir daquele horário. Sindicato forte é outra coisa mesmo. Seria uma hora a mais para esperar e engordar o cofrinho do estacionamento.Que jeito? Saquei o dinheiro e empunhei novamente aquele troço para encarar a chuva. Um café, quem sabe? E um livro. Buk me faria boa companhia e transformaria aquele monte de ócio em segundos.

Foi o que fiz e, de fato, passou voando. Dei seguimento ao meu plano. Fila de banco. Conta paga. Livros pegos. Celular carregado. Remédio comprado.

Cheguei em casa e a chuva parou.

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