janeiro 11, 2006

Rever-te


Há muito tempo não via o mar. Por tantas vezes meu companheiro e cúmplice dos meus devaneios a cada passo descuidado em que deixava minha mente vagar. Senti novamente sob os pés a areia molhada. As pegadas sendo apagadas e as ondas dançando ao ritmo do vento, vindo suavemente minhas pernas acariciar. A brisa úmida da maresia beijava por inteiro o meu corpo, enquanto o sol, que já se despedia, ainda emprestava seu calor e ali espreitava, voyeur, delatando sua presença através da natureza envolta por seu inconfundível contorno dourado; irresistível.

De repente era como se ali ninguém mais estivesse. Fui deixando o deleite daquele momento me anestesiar. Sem perceber, suspendia qualquer insegurança, logo não tinha nenhum problema ou preocupação. O murmurinho ao redor silenciava. Nada mais que o barulho do mar. Mergulhava então dentro de mim, na mesma paz de outrora, que nenhum outro cenário conseguira, com tamanha maestria, me proporcionar. E foi assim por muitos anos que tantas vezes fiz planos, reconheci meus enganos, centrei minhas idéias e pude então recomeçar.

Havia esquecido do quão importante para mim era o mar. Que poder é esse que ao salgar minha pele consegue minh’alma lavar? Daquela imersão quase incestuosa, fazer emergir de mim um estranho senso de consciência própria. Um lapso de lucidez confortante, em que tudo se torna claro; simples; fácil. O palpável, alcançável. O inútil, descartável. Os degraus para cada meta na proporção exata. Nem super, nem sub estimado. Fiquei muito tempo longe do mar. Me perdi. Enlouqueci. Fiquei à toa. Sem bem saber o que fazer. Sem perceber a falta e o bem que ele me faz.

Ah! Que tolice há de parecer, mas o que posso fazer? Talvez jamais em palavras consiga de fato expressar como foi doce meu reencontro com o mar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo, lindo e muito bem escrito :)
Que bom é poder entrar em contato consigo mesmo e de uma forma tão simples e inesperada.