março 27, 2006

Cores

Laranjinhas
Lembrete: Nunca entrar no aeroporto vestindo roupa cor de laranja.
Nunca vi tanto. É uma invasão! Tenho lá minhas dúvidas se eles não me perseguem. Ônibus laranja, funcionários do check-in ao comandante vestindo laranja. Tudo bem, é a identidade da companhia. Paro para jantar uma pizza e adivinha de que cor eram os uniformes dos atendentes? Siiiim! Não tive coragem de pedir o suco. Tomei um guaraná.
Red
Free shops são um paraíso à parte. Meu embarque era no portão internacional. Uma maravilha. Apesar da fila para alfândega, mesmo com passagem doméstica, gastei uns bons minutos entre prateleiras de perfumes importados a preço de banana. Converti o valor para real no celular. Menos da metade, que delícia!
Um aviso alertava que ali não se aceitava pagamentos em reais. Perguntei para a caixa se aceitavam cartão de crédito. "Claro. Todos menos os de débito" - respondeu. Feliz da vida, peguei um Hugo Boss Red e estiquei o braço para alcançar meu cartão. Eis que me pedem: " Por favor, o passaporte e o cartão de embarque." Não tinha passaporte em mãos e só o bilhete pra Porto Alegre. Com aquela educação de aeroporto que beira o irritante a caixa me disse: "Sinto muito, senhora. Só podemos vender para quem vai deixar o país." Por segundos, cheguei seriamente a pensar em partir para Montevidéu.
Colorê
Existem estratégias de marketing no mínimo burras. Deparei-me com uma delas num desses meus fins de semana de mãe honorária. Fui ao cinema assistir um filme infantil com minha irmãzinha. Sala especial. Em letreiros coloridos dizia: "Espaço Disney". Bacana - pensei, isso antes de entrar na sala.
Gritaria. Pipoca no chão. Cabelo na mão. Era uma bagunça! As cadeiras; cada uma de uma cor, e a criançada enlouquecida e hostil, brigando ora pela cadeira rosa, ora pela azul, ora pela amarela... Se Chaves adentrasse aquele espaço, possivelmente diria a quem o elaborou: " Que burro, dá zero pra ele!"
Enfim, poderia ser pior. Ainda bem que não estavam estampadas com as caras dos personagens.

março 24, 2006

Office-girl

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Descobri que estava quebrado só quando abri. Puta merda! – pensei – peguei o guarda-chuva errado. Justo quando teria que descer e em seguida dar uma bela pernada de salto alto até alcançar a Av. Paulista. Estacionamentos não faltam pela redondeza, é verdade, porém são caros e o metro quadrado por minuto costuma sair salgado por aquelas bandas.

O relógio marcava 7h35. Já previa a necessidade de fazer hora pelo menos até os bancos abrirem. Deixei o carro bem longe, onde assegurasse que ao invés de R$ 8 a hora não pagaria mais que R$ 2 pelo mesmo período. Longe, inconveniente, mas econômico. Pra variar, mais uma vez meu lado fresca se curvava ao pão-dura, que só perde para o outro quando cai naquele velho truque da liquidação. Ô palavrinha perigosa!

Segui munida apenas com aquele pedaço de tecido com meia dúzia de varetas ainda inteiras, brigando numa luta acirrada contra o vento e a chuva que pareciam vir cada vez mais fortes, num delírio sarcástico, como se obtivessem prazer em serem responsáveis pelo meu desalinho. Quase 8 da manhã. Em meio ao atrapalhado manuseio da coisa estropiada tentava manter certa elegância para não fazer feio naquela passarela empoçada onde desfilavam apressados ternos e gravatas pra lá e pra cá.

Tinha assinalado na agenda tudo que deveria fazer naquela manhã. Primeiro sacaria dinheiro para pagar uma conta de luz vencida com título de outro banco. Depois buscaria os livros de espanhol encomendados na véspera. Passaria então em uma lotérica para recarregar meu celular e também não poderia esquecer de passar numa farmácia no caminho.

Cheguei enfim no primeiro banco. Um dos caixas eletrônicos estava sob manutenção. O do lado, quem sabe, estaria funcionando. Esperei para ver se o rapaz que estava a minha frente sairia daquele caixa com sucesso. Olho para o lado enquanto aguardo, até porque não é prudente olhar para frente nesses lugares. Sempre tem um desconfiado que pensa que a gente tá lá tentando bisbilhotar a senha do infeliz.

E estava lá, colado naquela porta de vidro trancada o aviso do banco que dizia: “Expediente das 10h às 16h”. Droga! Podia jurar que abriam às 9h! Era inacreditável que naquela babilônia onde todos pareciam estar sempre com pressa fosse possível contar com a boa vontade dos bancários só a partir daquele horário. Sindicato forte é outra coisa mesmo. Seria uma hora a mais para esperar e engordar o cofrinho do estacionamento.Que jeito? Saquei o dinheiro e empunhei novamente aquele troço para encarar a chuva. Um café, quem sabe? E um livro. Buk me faria boa companhia e transformaria aquele monte de ócio em segundos.

Foi o que fiz e, de fato, passou voando. Dei seguimento ao meu plano. Fila de banco. Conta paga. Livros pegos. Celular carregado. Remédio comprado.

Cheguei em casa e a chuva parou.

março 08, 2006

Reflexão do dia


O dia que um homem me possuir com a mesma voracidade com que os pernilongos me atacaram essa noite, aí sim, me sentirei a mulher mais gostosa do mundo!

março 07, 2006

Brokeback Mountain, refri gay e iniciativa feminina

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Sexta-feira. Última sessão. Uma corrida só para ver os principais indicados ao Oscar em tempo de acompanhar a cerimônia. Já adianto que não consegui ver todos que gostaria. Confesso até que estava bem mais inclinada a assistir Paradise Now, indicado para melhor longa estrangeiro, do que priorizar o filme que José Simão carinhosamente apelidou de “Rave na Montanha”, favorito para levar os homenzinhos dourados para casa e com quatro estrelinhas dadas pela Veja.

Pois bem, que mal tem. Afinal a produção palestina só estava em cartaz em um cinema e sem sessões extras como a dos cowboys. Aliás, abre parênteses, nunca mais a expressão “tomar um cowboy” terá o mesmo sentido para mim. Viram como os caras se encharcavam de uísque? Puro? Será que foram nas pescarias de um Clube do Bolinha gringo e muito suspeito que surgiu a expressão?

Não importa. O que interessa é que o amor é lindo, o Heath Ledger é lindo e a Pepsi é gay! Para quem ainda não viu ou resolver entrar no clima do tema e deixar aflorar o teletubbie que tem dentro de si (De novo! De novo! Heheheh) nem precisa prestar muita a atenção para identificar o logo da Pepsi no México, onde, segundo consta na própria narrativa, tudo pode. Os “chicos” podem ficar soltos e endurecer sem perder a ternura. Será que foi apostando nesse nicho que a marca lançou o Pepsi X na esperança de regar as loucas noites de rave? E a Coca-cola no filme? Aparece imponente, num freezer bem grande e vermelho atrás de um casal hetero. Estranho, muito estranho...

Bom, eu não quero contar a história pra quem não viu até porque é o tipo de sacanagem que ninguém merece, portanto, se alguém se sentir ameaçado lendo esse texto SAIA JÁ E SÓ VOLTE COM O FILME VISTO! Se não, pode ler porque eu não vou contar nada de mais mesmo. Além de muito alcohol, da guerra dos softdrinks e de talvez, promover uma bela campanha anti-tabagista homofóbica (só os gays fumam nesse filme, é incrível!), outra coisa poderia soar como uma indireta à mulherada, como quem diz: “Se ele te viu, você deu mole e ele nem, esquece garota! O gato não tá afim ou não gosta da fruta”.

Meus primos estiveram em Sampa semana passada. Durante a exibição do filme foi inevitável lembrar de uma observação feita em relação ao comportamento dos homens e mulheres na noite paulistana. Disse meu primo: “Bah, os caras são meio parados por aqui, né? Não chegam muito nas gurias”. “Não é sempre assim, mas a mulherada aqui também não perdoa”, respondi.

Existem inúmeros fatores pra justificar a falta de timing dos meninos (covardia, comodismo, timidez, achar que a carne daquele açougue é de segunda mesmo,...), mas fiquem espertas, colegas! Hello! São Paulo não conquistou o título de uma das maiores paradas GLBT do mundo à toa. Há maneiras bem mais femininas de se demonstrar interesse sem um approach mais agressivo. Quando o cara não quer, não quer. Não adianta forçar a barra nem é inteligente chamar de veado. Deixa estar. Eu vou deixar. Pelo sim, pelo não, só quero bambi infeliz na minha cama se for em estampa de lençol neo-expressionista. Pessoal, sem ofensa, viu? Como dizia um ex-cunhado, “eu sou S”! Amigo, amigo...